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Possibilidade de Adenina em Titã

junho 26, 2009
Visão artística de uma paisagem em Titã, com um belo pôr (ou nascer) de Saturno.

Visão artística de uma paisagem em Titã, com um belo pôr (ou nascer) de Saturno.

Cientistas, liderados por Sérgio Pilling e sua esposa Diana P. P. Andrade (ambos da PUC-RJ), descobriram que o ambiente em Titã (uma das luas de Saturno) pode dar oportunidade à formação de adenina, um dos cinco alicerces com os quais se constrói um DNA (ou um RNA).

Experimentos neste sentido, onde se tenta recriar moléculas associadas à vida como a conhecemos, datam desde a década de 50. Naquela época, Stanley Milley e Harold Urey conseguiram construir moléculas de aminoácidos ao recriar o que se considerava ser a atmosfera primitiva da Terra e bombardeá-la com radiação (experimento Milley-Urey). DNA, ainda, não foi recriado em laboratório. Mas o trabalho liderado pelos cariocas foi nesta direção.

Ao gerar, em laboratório, a atmosfera de Titã (uma mistura de nitrogênio e metano), eles bombardearam este gás com raios-X e radiação ultravioleta. Estas são radiações eletromagnéticas que estão em toda parte nos céus. Aqui na Terra temos proteção contra a radiação UV devido à camada de ozônio, ou o que resta dela, e contra os raios-X devido à absorção na atmosfera terrestre. Lá fora, no espaço interestelar, estaríamos expostos a elas. Também, adicionaram um pouco de água para simular material de origem cometária que caía com certa frequência nos primórdios da formação do Sistema Solar.

Durante três dias, eles bombardearam este composto com uma radiação similar ao que Titã teria recebido do Sol durante 7 milhões de anos. Inicialmente, não detectaram nada de espetacular. Mas ao adicionar um calor extra, eis que surge a adenina.

Isto significa que, em um ambiente como em Titã, as bases para o DNA (pelo menos a adenina) poderia surgir se um calor extra for adicionado. Tal calor extra poderá ser fornecido pelo Sol. Numa fase final da evolução solar, quando este se expandir e suas camadas mais externas alcançarem a órbita da Terra (fase gigante vermelha, prevista para ocorrer com o Sol daqui há alguns bilhões de anos), a maior proximidade do Sol com Saturno, e suas luas, poderia fornecer calor suficiente. Na própria lua de Saturno, em regiões próximas à vulcões, este fenômeno também poderia ocorrer.

Em certos aspectos, Titã é mais parecido com a Terra do que qualquer outro objeto do sistema solar, uma vez que apresenta lagos, continentes e nuvens. E, com uma atmosfera rica em nitrogênio e abundância em material orgânico, ele é apontado como algo similar ao que fora a Terra primordial. Além disso, ele pode sustentar um oceano de água líquida sob o gelo, e lá pode haver vida. Daí sua importância quanto ao entendimento do surgimento da vida como a conhecemos. O trabalho pode ser acessado aqui.

Referências:

[1]Sergio Pilling, Diana P. P. Andrade, lvaro C. Neto, Roberto Rittner and Arnaldo Naves de Brito, J. Phys. Chem. A, 2009 (DOI: 10.1021/jp902824v)

O DNA e suas ligações protêicas.

O DNA e suas ligações protêicas.