Após um longo tempo sem postar nada, resolvi escrever sobre algumas coisas legais que andei olhando nesse período ausente.
O vídeo acima achei no excelente blog De Rerum Natura, e resolvi ajudar na divulgação. Trata-se de um ótimo trabalho inspirado no poema de Millôr Fernandes. Segundo informação de quem o disponibilizou no youtube, ele foi produzido por alunos de ensino médio do Colégio Helyos e foi parte do trabalho de educação para mídias e artes mediado pelo professor Victor Venas.
Ainda na linha de vídeos legais, tem esse outro vídeo que tomei nota no Open Culture, um sítio bacana com muita informação sobre cultura em geral. Esse vídeo foi animado e dirigido por Jeff Chiba Stearns, e foi o vencedor do Prix du Public em Clermont-Ferrand. Ele trata de uma animação montada com desenhos em “Stickys” amarelos e aborda tudo o que vinha à sua cabeça. Genial!
No último dia 10 o governo britânico pediu desculpas pela forma violadora como tratou o cientista inglês Alan Turing na década de 1950 responsabilizando-o por sua sexualidade.
Alan Mathison Turing (1912-1954) deu contribuições a diversas áreas do conhecimento científico, como matemática, lógica, ciência da computação e química. Apesar de ser mais lembrado na Inglaterra do que em outros países, não é exagero dizer que todo o mundo é influenciado pela produção científica de Turing. Para citar apenas parte de seu legado, foi ele quem fundamentou a ideia de computador enquanto máquina de resolver problemas matemáticos, decifrou a máquina criptográfica alemã Enigma, utilizada na Segunda Guerra Mundial (colaborando assim com a reviravolta dos Aliados e sua vitória), ajudou a construir o conceito de algoritmo e fomentou o debate sobre inteligência artificial.
Por ser homossexual, foi condenado pela legislação da época, sob a qual foi considerado doente mental e criminoso. Foi afastado dos projetos secretos do quais participava por ser encarado como um risco à segurança do país. Para não ser preso, submeteu-se em 1952 a um tratamento com hormônios femininos como forma de se curar do que na época era encarado como distúrbio mental. Aos 41 anos foi encontrado morto; acredita-se ter sido vítima de suicídio, embora sua mãe tenha duvidado da versão oficial de sua morte. O pedido de desculpas do governo britânico, comunicado pelo premiê Gordon Brown, foi reflexo de uma petição on-line que visava resgatar o assunto e chamar a atenção para a falta de financiamento ao museu do cientista.
Apesar de a ação discriminatória e homofóbica do Estado inglês contra Alan Turing não ser mais aceita como foi naquela época (desde 1973 a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Associação Americana de Psiquiatria) não é raro ainda presenciarmos discriminação a colegas (não só) no meio acadêmico, embora de forma não institucionalizada, por conta de sua orientação sexual. Sofrem tratamento diferenciado, desde piadas “inocentes” a maus tratos, por terem uma identidade sexual que não corresponde à exigência social.
Muitas vezes essa discriminação passa desapercebida: a “naturalidade” com que é encarado esse tipo de distinção, visto como espontâneo frente ao “desvio comportamental” associado à homossexualidade (como se existisse um modo normal de se agir, que devesse ser imputado a todo e qualquer indivíduo), é mais do que herança do pensamento que permeava o contexto em que Turing (e não só ele) teve sua dignidade violada. A heteronormatividade é mais uma das máscaras com que se veste a não aceitação do que é diferente. Ou uma homofobia dissimulada se comparada ao que era há 50 anos, porém não menos opressora.
Para insipirar a reflexão, uma bela obra de arte audiovisual (indicada, assim como o tema deste post, pelo Alessandro).