Ao longo do curso da licenciatura em Física, nós, alunos, somos estimulados a fazer algumas leituras e escrever curtas resenhas sobre assuntos que, ao menos ao meu ver, são muito interessantes. Em uma das disciplinas desse curso, tive contato com um trabalho que me chamou a atenção por tratar da importância da Física fazer parte do currículo escolar.
Maurício Pietrocola publicou o artigo “Construção e Realidade: modelizando o mundo através da Física”, presente no livro “Linguagem e Estruturação do Pensamento na Ciência e no Ensino de Ciências” (publicação viabilizada pelo Núcleo de Pesquisa em Inovação Curricular, órgão vinculado à Fapesp), do qual Pietrocola foi organizador. Nessa publicação, dedicada à problematização da extensão da linguagem no pensamento científico, o autor faz uma reflexão acerca da Física e de sua importância enquanto uma forma inovadora de se representar o mundo.
A busca por uma justificativa para a institucionalização da Física no currículo escolar é capaz de resultar em uma longa lista de motivações, das mais práticas – como fornecer condições para o indivíduo se estabelecer no mercado de trabalho e assim enriquecer – até as mais românticas – como instigar o prazer pelo conhecimento em si, sem respaldo no pragmatismo exacerbado que contagia nosso espírito de época, principalmente no mundo ocidental. Todavia, tal reflexão aparentemente não surte resultados práticos: qualquer que seja a justificativa para o ensino de Física nas escolas, sua prática parece estar cada vez mais distante dos supostos objetivos da Escola brasileira.
No texto, Pietrocola mostra como o conhecimento abarcado pela Física enquanto ciência e o conhecimento que faz parte do cotidiano, apesar de constituírem realidades construídas paralelamente, podem se encontrar em um horizonte no qual as pessoas constroem o que ele diz ser seu “sentimento de realidade”, ou seja, uma forma subjetiva de se criar uma representação coerente do universo de experiências em que cada indivíduo se insere.
Por ser o conhecimento científico algo que atinge práticas sociais restritas a grupos específicos – não é comum, salvo raras exceções, dialogar em termos científicos com a família ou com os amigos em momentos descontraídos – a escola, a partir de seu currículo, desempenha papel fundamental de viabilizar a todos uma nova visão de mundo a partir da realidade Física.
É da aproximação entre realidade Física e realidade no sentido cotidiano que o autor enxerga a Física como uma espécie de estratégia para se atingir representações alternativas ao “senso comum” sobre o mundo natural, apontando, portanto, ao menos uma utilidade à presença dessa ciência no currículo escolar. Segundo Pietrocola, “é necessário mostrar na escola as possibilidades oferecidas pela Física e pela ciência em geral, enquanto formas de construção de realidades sobre o mundo que nos cerca”.
O artigo é um ótimo ponto de partida a quem busca subsídios para se engajar ao ensino de Física, principalmente por não se propor a entender o ensino sob um olhar cientificista, colocando o pensamento científico em pé de igualdade com outras modelizações de mundo.
O artigo completo pode ser encontrado neste link (e devo agradecer ao Marcellus por tê-lo encontrado).