Os computadores de Harvard

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O Café com Ciência já mostrou que muitas vezes existe uma certa inércia relacionada a classificações em Astronomia. Mas a mais interessante delas (em minha opinião) refere-se à classificação espectral de estrelas (também aqui).

Mas não é bem sobre isso que eu queria escrever, e sim sobre as mulheres presentes na foto (responsáveis pelo desenvolvimento da classificação). Elas ficaram conhecidas (entre o final do século XIX e início do século XX) como os “Computadores de Harvard“.  Desde muito antes daquela época, as mulheres já vinham trabalhando para o desenvolvimento da Astronomia, e sua participação tornou-se cada vez maior com o passar dos anos.

No início da década de 1880, Charles Pickering (então diretor do Observatório de Harvard) realizou um survey astronômico voltado à espectros estelares. Para fazer a classificação de todas as placas fotográficas com os espectros obtidos, Pickering recrutou (entre outras) Williamina Fleming, Antonia Maury e Annie Jump Cannon. Foi uma das primeiras vezes que mulheres puderam exercer a função de computadores humanos (até então uma função exclusiva para homens).

O trabalho começou com Williamina, cuja tarefa principal foi arranjar todos os espectros de acordo com um critério estabelecido, que nesse caso era a intensidade das linhas da série de Balmer do elemento Hidrogênio. Assim, ela dividiu as estrelas em classes que iam de A (linhas mais intensas) até N (linhas mais fracas). Alguns anos mais tarde, Annie Cannon agrupou algumas classes e só restaram as letras A, B, F, G, K, M e O. Utilizando esse novo esquema, Annie classificou (entre 1918 e 1924) mais de 225.000 estrelas!

Atualmente, as estrelas são classificadas de acordo com sua temperatura. MAS, como a classificação de Annie foi mantida, a ordem (para valores decrescentes de temperatura) tornou-se: O, B, A, F, G, K e M. A mnemónica mais utilizada entre os astrônomos é: Oh, Be A Fine Girl/Guy, Kiss Me. Até hoje não encontrei nenhuma frase em português  (e sem palavras de baixo calão) que fosse fácil de memorizar.

Abaixo, mais uma foto (retirada daqui) dessas bravas mulheres trabalhando na classificação de espectros. Outra astrônoma, que também aparece na foto (terceira partindo da esquerda) e que contribuiu em outras áreas da astronomia, é Henrietta Leavitt.

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Fica registrado então o nosso sincero agradecimento a essas mulheres que, mesmo em condições desiguais, tanto trabalharam (e ainda trabalham) para o desenvolvimento da ciência!

Veja também!

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5 Respostas to “Os computadores de Harvard”

  1. Stephen Dedalus Says:

    Caro,

    Que tal ampliar a frase para “Oh, Be A Fine Girl/Guy, Kiss My Lips Tonight”?

    Um abraço!

  2. Vinicius Placco Says:

    É uma boa idéia. Se fosse possível incluir as demais classes acho que apareceriam frases mais criativas. Mas como elas são muito pouco utilizadas, os astrônomos acabam indo até o M mesmo!

    um abraço!

  3. Marcellus Says:

    Achei muito interessante o post, eu adoro história e adoro mais ainda mulheres. Tudo bem essas não eram bonitas, mas fizeram uma grande contribuição a Astronomia, legal.

  4. Vinicius Placco Says:

    É, com certeza a contribuição delas foi imensa! A história é bem interessante e divertida. Ainda fiquei devendo umas palavras sobre as mulheres na astronomia nos dias de hoje…

    um abraço!

  5. Céu da Semana Ep. #227 – História da Astronomia: As Computadoras de Harvard Says:

    […] astronómica para esta semana, e o professor Gustavo Rojas fala sobre as chamadas “Computadores de Harvard“, as mulheres que fizeram parte da equipa de Edward Charles Pickering, diretor do […]

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