Alan Turing: questão de sexualidade

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No último dia 10 o governo britânico pediu desculpas pela forma violadora como tratou o cientista inglês Alan Turing na década de 1950 responsabilizando-o por sua sexualidade.

Alan Mathison Turing (1912-1954) deu contribuições a diversas áreas do conhecimento científico, como matemática, lógica, ciência da computação e química. Apesar de ser mais lembrado na Inglaterra do que em outros países, não é exagero dizer que todo o mundo é influenciado pela produção científica de Turing. Para citar apenas parte de seu legado, foi ele quem fundamentou a ideia de computador enquanto máquina de resolver problemas matemáticos, decifrou a máquina criptográfica alemã Enigma, utilizada na Segunda Guerra Mundial (colaborando assim com a reviravolta dos Aliados e sua vitória), ajudou a construir o conceito de algoritmo e fomentou o debate sobre inteligência artificial.

Por ser homossexual, foi condenado pela legislação da época, sob a qual foi considerado doente mental e criminoso. Foi afastado dos projetos secretos do quais participava por ser encarado como um risco à segurança do país. Para não ser preso, submeteu-se em 1952 a um tratamento com hormônios femininos como forma de se curar do que na época era encarado como distúrbio mental. Aos 41 anos foi encontrado morto; acredita-se ter sido vítima de suicídio, embora sua mãe tenha duvidado da versão oficial de sua morte. O pedido de desculpas do governo britânico, comunicado pelo premiê Gordon Brown, foi reflexo de uma petição on-line que visava resgatar o assunto e chamar a atenção para a falta de financiamento ao museu do cientista.

Apesar de a ação discriminatória e homofóbica do Estado inglês contra Alan Turing não ser mais aceita como foi naquela época (desde 1973 a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Associação Americana de Psiquiatria) não é raro ainda presenciarmos discriminação a colegas (não só) no meio acadêmico, embora de forma não institucionalizada, por conta de sua orientação sexual. Sofrem tratamento diferenciado, desde piadas “inocentes” a maus tratos, por terem uma identidade sexual que não corresponde à exigência social.

Muitas vezes essa discriminação passa desapercebida: a “naturalidade” com que é encarado esse tipo de distinção, visto como espontâneo frente ao “desvio comportamental” associado à homossexualidade (como se existisse um modo normal de se agir, que devesse ser imputado a todo e qualquer indivíduo), é mais do que herança do pensamento que permeava o contexto em que Turing (e não só ele) teve sua dignidade violada. A heteronormatividade é mais uma das máscaras com que se veste a não aceitação do que é diferente. Ou uma homofobia dissimulada se comparada ao que era há 50 anos, porém não menos opressora.

Para insipirar a reflexão, uma bela obra de arte audiovisual (indicada, assim como o tema deste post, pelo Alessandro).

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2 Respostas to “Alan Turing: questão de sexualidade”

  1. Paulo Oliveira Says:

    Interessante o post e o vídeo. Me motivou a fazer um post em meu blog sobre a intolerância e a ética profissional no mercado de arquitetura e Design de Interiores:
    http://paulooliveira.wordpress.com/2010/09/10/mundo-hipocrita/
    abs

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