A idéia surgiu de uma discussão no fórum da SAB (Sociedade Astronômica Brasileira). A SAB é uma sociedade científica sem fins lucrativos com sede na cidade de São Paulo, que tem como uma de suas principais finalidades congregar os astrônomos do Brasil.
O fórum em questão é um mailing list que circula entre os membros e trata de assuntos relevantes à Política Científica no Brasil e seus desdobramentos na Astronomia, bem como demais assuntos relacionados de alguma forma ao seu campo de atuação.
No ano de 2007 a UNESCO declarou 2009 como Ano Internacional da Astronomia e diversas atividades estão em curso ao redor do mundo desde então. Aqui no Brasil não é diferente, ainda mais porque teremos, em agosto, a Assembléia Geral da União Astronômica Internacional, que ocorrerá no Rio de Janeiro.
Foi instituido pela organização local do evento um Balcão de Palestras que, segundo o próprio site do evento:
“A proposta do Balcão de Palestras é facilitar o encontro entre conferencista e instituições, centros de ciências, escolas, etc. O conferencista anuncia sua oferta de palestra e as instituições interessadas entram em contato com ele para acertar detalhes de data, transporte, estadia etc. A coordenação do Ano Internacional da Astronomia apenas faz a divulgação de palestras disponíveis não tendo portanto qualquer responsabilidade sobre o acordo palestrante/instituição. As informações aqui divulgadas são de responsabilidade do conferencista.”
Sem dúvida uma excelente iniciativa. A discussão teve início quando um palestrante foi convidado a dar uma palestra em uma cidade do interior. Porém, a escola não possuia meios de custear a viagem do mesmo. Então a organização do Banco de Palestras foi questionada se não seria possível pagar despesas para palestrantes fora de sua cidade de residência. E a resposta foi não. Concluindo: A palestra não foi dada, o conhecimento não foi difundido, muitos perderam com isso por causa de meio tanque de gasolina (ou menos).
Logo em seguida outro participante perguntou se era justo deixar de levar o conhecimento à pessoas carentes simplesmente porque alguém (tanto o palestrante quanto a organização ou mesmo as agências de fomento) não estava disposto a pagar a gasolina (ou não havia previsto este tipo de gasto), levando em conta o fato de que o suporte financeiro dos bolsistas durante toda a pós-graduação, pós-doutorado e eventualmente depois em sua carreira como pesquisadores, é dado pela CAPES, CNPq e FAP’s, ou seja, vem também da população. Foi dita uma frase que gostaria de reproduzir aqui:
“Não se trata de caridade. Trata-se de devolução”
Não cabe a mim julgar as pessoas nem as instituições envolvidas. Todos possuem seu ponto de vista e têm pleno direito de falar o que pensam. Eu só queria colocar o problema claramente para tentar propor uma pequena e modesta solução:
Seria um sistema de ajuda mútua. Aqueles que eventualmente possuem condição de pagar podem ajudar àqueles que não têm condição a terem o mesmo acesso ao conhecimento. Como? As palestras poderiam ser oferecidas, por exemplo, em escolas próximas a residência dos palestrantes, ao custo de 1 real por estudante. MAS, só paga quem puder e quem quiser. Assim, não existe custo de transporte do palestrante e algum dinheiro é arrecadado. Quanto? Não sei. Imagine uma escola com as 3 séries do ensino médio, 2 classes por série, 30 alunos por classe, 10 dispostos a pagar 1 real. Em seguida, o palestrante pode utilizar o dinheiro recolhido para ajudar no seu deslocamento para localidades mais distantes.
Não é caridade, ninguém é obrigado a pagar. Mas os palestrantes deveriam ser encorajados a divulgar a ação no local onde irão realizar a palestra, e enfatizar que o dinheiro arrecadado vai ajudar mais e mais pessoas a terem o acesso à palestra. Duvido que muitos dos estudantes que tenham condição não queiram ajudar.
Sei que a palavra “pedir dinheiro” (mesmo que este não seja exatamente o caso) já deve ter dado arrepios, gerado descontentamento e até irritação em alguns. SEMPRE que dinheiro entra na situação as pessoas tendem a “burrocratizar” (sim, com rr) todo o sistema, fazendo com que o mesmo colapse antes de começar. Não é necessário nota fiscal, prestação de contas, formulários nem nada. Minha expectativa (talvez ingênua) seria a de que o sistema se baseasse na confiança de que aquele que coletar o dinheiro vai utilizá-lo como deve. Pode não ser a melhor idéia do mundo, mas é um começo.
É sim um sistema de apoio, onde uns dependem de outros para que tudo não desabe. E o papel das pessoas que hoje possuem o conhecimento (e a capacidade de disseminá-lo) é ajudar no “transporte” desse apoio.
Talvez os pesquisadores possam carregar consigo algo além do conhecimento.
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