O que você me diria se eu lhe pedisse para fazer um mapa da sua cidade sem sair da sua casa? Ou, no máximo, subindo no topo de um edifício?
É exatamente isso que os astrônomos fazem já há alguns séculos. Tentamos desenhar um mapa da nossa Galáxia morando dentro dela. E, novamente, é incrível notar como os avanços tecnológicos conseguem explicar muitos problemas que antes pareciam insolúveis e nos dar novas perspectivas sobre nossa visão do Universo.
Uma das tentativas (e, na minha modesta opinião, uma das mais interessantes) teve início no final dos anos 1770. William Herschel e sua irmã Caroline fizeram um mapa dos céus (ver figura acima – O nosso Sol é o ponto mais brilhante próximo ao centro da imagem) utilizando um telescópio refletor de 47.5cm. Enquanto William observava o céu, Caroline fazia as anotações. William achava que, contando o número de estrelas em diversas regiões do céu, poderia encontrar o centro da Galáxia onde houvesse a maior concentração de estrelas. Como ele não encontrou nenhuma região privilegiada nesse sentido, não conseguiu determinar com exatidão a posição do centro galáctico, e nem a posição do Sol na Galáxia. No entanto, em uma dessas observações (em 1781), ele notou um objeto com um pequeno disco, o planeta Urano. Essa descoberta lhe trouxe fama, além da nomeação de Astrônomo Real da Inglaterra.
Existem ainda muitos aspectos históricos relevantes para a astronomia no trabalho de Herschel, como a descoberta da radiação infra-vermelha, além de muitos esforços (tanto dele quanto de sua irmã) para medir parâmetros de estrelas, aglomerados de estrelas e nebulosas com uma precisão invejável nos idos de 1700! Herschel publicou então em 1786 o “Catalogue of One Thousand new Nebulae and Clusters of Stars”. Ele catalogou, ao longo de sua vida mais de 800 estrelas duplas e 2.500 nebulosas.
Porém, o que mais me chama a atenção na figura é a parte do lado direito, onde não existem estrelas. O que seria isso? Bem, naquela época não se sabia ao certo. A única informação disponível, na verdade, era a “ausência de informação” naquela direção. Uma das hipóteses de Herschel era de que todas as estrelas eram parecidas com o Sol, o que o levou a erros nos cálculos de distância. Além disso, ele não sabia que a luz das estrelas poderia ser bloqueada por nuvens escuras ou diminuída pela extinção interestelar (por exemplo o espalhamento da luz por grãos de poeira no meio que permeia as estrelas). Esses fatores o levaram a determinar erroneamente a posição do Sol e do centro da Galáxia.
Afinal, como nós vemos a Via Láctea hoje em dia? A figura abaixo (veja a imagem em alta resolução aqui) mostra a tentativa mais recente de fazer um mapa da “nossa casa”, com a ajuda do telescópio espacial Spitzer.
Acredita-se que a Via Láctea seja uma Galáxia Espiral do tipo barrada (note duas pequenas barras saindo da região central do esquema acima) com dois braços principais, sendo que o Sol encontra-se a aproximadamente 26.000 anos-luz de distância do centro da Galáxia.